Robert BOYER em Os dez paradoxos do capitalismo contemporâneo, encontra um conjunto de explicações para o falhanço do formato que, a direita actual, deu ao modelo Capitalista/liberal. Ao contrário do período conhecido por 30 dourados, período em que houve incremento real de salários, assistamos hoje, a um discurso fatalista que nos que persuadir da necessidade de imprimir reduções salariais, com o fito de converter a nossa economia noutra mais competitiva. Nada mais desacertado. Na economia do conhecimento e da aprendizagem, a variável salário, não é de relevo assinalável, antes funciona ao contrário, isto é: salários elevados aliciam trabalhadores mais produtivos e inovadores. É, por conseguinte, a produtividade e a inovação que devem ocupar o melhor do esforço dos nossos governantes. E se eles só se preocuparem com o crescimento dos salários? Fora com eles.
É neste contexto que entendemos Robert BOYER quando afirma que, o motor oculto do capitalismo poderia ser o seguinte: quanto mais constrangimentos lhe impomos, mais ele é incitado, ou mesmo obrigado, a inovar. Se o deixarmos prosseguir livremente, torna-se extensivo e socialmente retrógrado. Assim, por detrás do surpreendente crescimento americano dos anos 90, tão gabado, a produtividade dos factores no conjunto do ciclo permanece estagnada. A indolência da produtividade americana não foi ultrapassada. De facto, ante a extrema flexibilidade do salário real, cujo crescimento a longo prazo foi quase completamente detido, é lógico que as empresas não sejam pressionadas para inovar. Para as famílias e os trabalhadores, a palavra de ordem seria: «Trabalhem mais, ponham os vossos teenagers a trabalhar.» Se têm três activos por família, então o consumo e o nível de vida poderão continuar a progredir. Mas isso não renova um modo de desenvolvimento intensivo que havia feito o encanto do fordismo. A flexibilidade defensiva do trabalho corrói a necessidade da inovação, com excepção de alguns sectores de alta tecnologia em torno dos quais se polarizam os observadores da economia americana. in VINDT, Gérard (1999) - 500 anos de capitalismo, A Mundialização de Vasco da Gama a Bill Gates, Temas e Debates, Lisboa., pp 137.
Assim sendo, vamos lá criar problemas ao modelo capitalista da direita actual. É essa a nossa obrigação. Queremos que as nossas vidas melhorem. Vamos obrigar o capitalismo a fazer exercício, já que não queremos que venha a ter um ABC, por acumulação de gordura em excesso.